Unidade Embrapii UFV Fibras Florestais é destaque no desenvolvimento de tecnologias disruptivas

Júlia Rodrigues - 24-06-2025
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Os projetos de PD&I incluem produção de biocombustíveis, desenvolvimento de eucaliptos tolerantes a seca e a utilização da fibra da Cannabis sativa para fins industriais

Credenciado como Unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii ) em 2020, o Departamento de Engenharia Florestal da Universidade Federal de Viçosa (DEF/UFV) atua em pesquisas na área de Fibras Florestais. Completando apenas cinco anos no próximo mês, destaca-se pela excelência, tornando-se referência em inovação no setor florestal. 

A Unidade, que conta com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) para o desenvolvimento de suas pesquisas, foca em três áreas de trabalho: produção e qualidade das fibras florestais; conversão das fibras florestais em materiais e produtos; e a conversão de fibras florestais em energia e combustíveis. No total, são 15 laboratórios equipados com infraestrutura e equipamentos de ponta em que são desenvolvidos mais de 60 projetos de PD&I com apoio da Embrapii. O grupo já conta com mais de 20 patentes registadas.

Segundo o coordenador da Unidade Embrapii UFV Fibras Florestais, Gleison dos Santos, alguns motivos os tornaram uma das principais Unidades Embrapii em número de projetos e volume de recursos captados. “O DEF/UFV tem um background de mais de 50 anos em parcerias com a iniciativa privada. Com apoio da Sociedade de Investigações Florestais (SIF) temos acesso direto a empresas associadas, entendendo quais suas dores e necessidades tecnológicas de inovação. A partir daí propomos soluções inovadoras e robustas para gerar uma indústria mais competitiva para Minas Gerais e para o Brasil”, explica. 

Projetos cooperativos 
A Unidade Embrapii UFV Fibras Florestais é parceira de cerca de 60 empresas. Em Minas Gerais, empresas como Gerdau, Arcelor Mittal e Vallourec aportam recursos em projetos desenvolvidos na Unidade. Segundo Gleison, uma das características marcantes da Unidade são os projetos desenvolvidos cooperativamente. Um deles, que foca no desenvolvimento de espécies de eucaliptos tolerantes à seca, envolve a parceria de 15 empresas.

“Esse projeto, que pretende lançar 14 cultivares, tem potencial transformador para o estado de Minas Gerais, especialmente para as áreas mais secas e menos desenvolvidas localizadas ao Norte de Montes Claros. Os clones de eucaliptos resistentes ampliam a possibilidade de desenvolvimento da atividade econômica que utiliza o eucalipto como matéria-prima como a indústria de celulose e indústrias têxteis”, explica. 


Gleison dos Santos, coordenador da Unidade Embrapii UFV Fibras Florestais: soluções inovadoras e robustas para gerar uma indústria mais competitiva para Minas Gerais e para o Brasil. (Foto: Júlia Rodrigues)


Impacto ambiental 
Os projetos abrem caminhos para novas soluções em biocombustíveis e plásticos biodegradáveis. De acordo com Gleison as fibras florestais “vivas” do pinus ou dos eucaliptos têm o mesmo princípio ativo do petróleo, principal fonte de combustível utilizada hoje. Elas são ricas em lignina, um polímero complexo encontrado nas paredes celulares das plantas terrestres que conferem às plantas rigidez e resistência. “Nós buscamos quebrar a barreira tecnológica para que a árvore viva também possa produzir o plástico biodegradável que não vá se acumular nos oceanos”, almeja. 

Em parceria com a startup Buds INC e apoio da Embrapii e do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), a Unidade tem desenvolvido produtos industriais a partir da biomassa do cânhamo, uma das cultivares da C. sativa. O projeto inova pela abordagem. 

“A maioria dos projetos são focados nas flores, onde estão os compostos químicos medicinais e recreativos, mas isso é apenas 15% da biomassa da planta, onde não estão localizados os princípios ativos químicos como o tetraidrocanabinol (THC) e o canabidiol (CBD). Estamos focados nos outros 85% da biomassa que incluem caule, folhas e raízes”, explica Gleison.

O pesquisador explica que, durante as Grandes Navegações, roupas e cordas de navios eram feitas a partir da fibra maleável do cânhamo - a mais longa entre as plantas. A fibra deixou de ser utilizada a partir da proscrição da planta por causa de compostos como o THC. Hoje a sua produção industrial é proibida, mas esse cenário tende a mudar. “O próprio Brasil, neste momento, esta revendo a legislação para permitir o plantio comercial de Cannabis com baixo níveis de THC”, conta. 

A partir da biomassa do cânhamo é possível produzir papel, biochar (carvão vegetal para reter água e nutrientes no solo); pellets (combustível utilizado para lareiras, caldeiras e estufas) e o hempcrete ou concreto de cânhamo usado como revestimento isolante. Além dos desenvolvimentos desses produtos, a Unidade também orienta seu trabalho para o melhoramento genético e propagação das plantas via clonagem, já contando com uma patente depositada no Brasil, que agora busca o registro também nos Estados Unidos. 

Próximos Passos 
O objetivo da Unidade Embrapii UFV Fibras Florestais é tornar-se um centro de competência de fibras florestais nativas e exóticas para a produção de fármacos, cosméticos e têxteis. “Ser um centro de competência, para além de Unidade Embrapii, é um passo do futuro para a gente”, diz Gleison.