Projetos Inspiradores da FAPEMIG destaca impactos para ciência e inovação com o CT Vacinas

Assessoria de Comunicação Social UFMG e FAPEMIG - 01-08-2025
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O CT Vacinas, centro de referência da UFMG para o desenvolvimento de vacinas, foi o homenageado da vez na série Projetos Inspiradores, promovida pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) em comemoração aos 40 anos. O evento ocorreu nesta quinta-feira (31), no auditório da Reitoria da universidade. Os professores Santuza Teixeira e Ricardo Gazzinelli, do Instituto de Ciências Biológicas (ICB), apresentaram as conferências Ciência, saúde e políticas públicas: a trajetória do CT Vacinas e O desenvolvimento da SpiN-Tec e outras vacinas com tecnologia 100% nacional, respectivamente.

Antes das apresentações dos pesquisadores do CTVacinas, o presidente da FAPEMIG, Carlos Arruda, relembrou, na palestra FAPEMIG: oportunidades para o futuro, os primórdios de sua criação, destacando o a liderança exercida pela UFMG. Ainda nos anos 1960, professores da Universidade, inspirados na experiência paulista da Fapesp, mobilizaram-se para convencer o governo estadual a criar uma agência de fomento. “A Fundação só existe por iniciativa, empenho e perseverança de professores da UFMG. Sem a Universidade, não teríamos a FAPEMIG”, enfatizou.

O dirigente narrou episódios marcantes dessa trajetória, desde as primeiras tentativas frustradas de institucionalizar a Fundação até a articulação vitoriosa de 1985. Ao longo de quatro décadas, a relação se fortaleceu a ponto de a Universidade concentrar parte expressiva dos investimentos da FAPEMIG. Segundo Carlos Arruda, nos últimos quatro anos projetos da UFMG receberam R$ 360 milhões de financiamento. “Apenas em 2024, foram R$ 100 milhões aplicados em projetos de pesquisa, sem contar as bolsas de formação. Hoje, a FAPEMIG é o principal órgão de fomento à ciência, tecnologia e inovação em Minas Gerais”, afirmou.

Políticas para sustentar ciclo de inovação

Em sua exposição, Santuza Teixeira chamou atenção para o impacto histórico das vacinas na redução de doenças e mortes no mundo. Citando dados de organismos internacionais, ela lembrou que amplos programas de imunização levaram à erradicação de doenças como varíola e à expressiva queda na incidência de sarampo e febre amarela. “Durante um período de aproximadamente 50 anos, desde que a Organização Mundial da Saúde lançou um programa de distribuição de vacinas, observamos uma redução absoluta na incidência de casos de várias doenças infecciosas”, relatou.

A professora mencionou ainda as estimativas obtidas em um estudo recente segundo o qual a vacinação evitou a morte de 154 milhões de pessoas em 174 países. “Sem os dados, estaríamos tratando apenas de opinião. Mas os dados atestam a importância das vacinas”, enfatizou. Para a professora, a pandemia de covid-19 reforçou esse papel estratégico e aproximou o público leigo de informações técnicas sobre imunização: “Hoje sabemos que existem vacinas de várias plataformas, desde as de primeira geração, feitas a partir do agente infeccioso atenuado ou inativado, até as de segunda geração, viabilizadas pela biotecnologia a partir dos anos 1980 e 1990”.

Créditos: Júlia Rodrigues/FAPEMIG

Ao abordar o cenário nacional, Santuza Teixeira alertou que algumas vacinas necessárias ao Brasil dificilmente serão desenvolvidas em outros países, por não representarem demandas prioritárias para eles. “Se não as desenvolvermos aqui, provavelmente não teremos acesso a essas soluções", disse. Ela ressaltou que o CT Vacinas atua em toda a cadeia de inovação – pesquisa básica, desenvolvimento tecnológico e transferência de conhecimento – e defendeu a necessidade de políticas públicas que sustentem esse ciclo. “Precisamos garantir que a ciência feita no Brasil tenha condições de chegar ao mercado e ao SUS, impactando diretamente a saúde da população”.

Em seu entendimento, o CT Vacinas é fundamental para que o Brasil avance rumo à autonomia na área da saúde. “Na pandemia da covid-19, ficou claro que precisamos desenvolver uma estratégia de política pública relacionada à nossa autonomia. A pandemia foi uma oportunidade para que os gestores entendessem a importância de apoiar, financiar e incentivar os grupos de pesquisa brasileiros, que são de altíssima qualidade. O futuro Centro Nacional de Vacinas virá como resposta a essa demanda, preenchendo a lacuna da etapa intermediária entre o projeto de laboratório e a produção industrial de uma vacina”, projetou.

Longo prazo

O professor Ricardo Gazzinelli ressaltou que o reconhecimento do CT Vacinas como Projeto Inspirador pela FAPEMIG representa também uma valorização das parcerias de longo prazo. “Esse evento foi uma honra para o CT Vacinas, escolhido entre muitos projetos da UFMG de grande importância”, afirmou. Ele lembrou que a FAPEMIG apoia o centro desde 2002, inicialmente com a criação da Rede Mineira de Biomoléculas, e esse suporte se estendeu até a consolidação do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Vacinas (INCT-V). “Todo esse projeto é resultado de um financiamento perene, que, daqui pra frente, esperamos que seja o modo de ação da FAPEMIG”, projetou.

Para Gazzinelli, a política de financiamento de longo prazo é essencial para o desenvolvimento tecnológico do estado e do país. "A ciência exige tempo e continuidade, ela não é rápida. As parcerias perenes são muito importantes para garantir que um projeto chegue ao fim e se converta em inovação real. Sem continuidade, perde-se o esforço e o investimento feito", destacou.

Ao mencionar a SpiN-Tec, — vacina contra a covid-19 desenvolvida com tecnologia 100% nacional e atualmente em estudos clínicos — e outras pesquisas conduzidas pelo centro, o professor destacou que o CT Vacinas impulsiona não apenas o avanço científico, mas também o ecossistema de biotecnologia mineiro, formando profissionais altamente qualificados e atraindo investimentos estratégicos.

O CTVacinas é um centro de pesquisas em biotecnologia que resulta de parceria estabelecida entre a UFMG, o Instituto René Rachou da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz-Minas) e o BH-TEC. O ambiente de pesquisa, que é dedicado ao desenvolvimento de novas tecnologias para a produção de kits de diagnóstico e imunizantes contra doenças humanas e veterinárias, será transformado no Centro Nacional de Vacinas (CNVacinas), fruto de acordo firmado entre a UFMG, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e o governo de Minas Gerais. A pedra fundamental do CNVacinas, que está sendo erguido em terreno no BH-TEC, foi lançada em dezembro de 2023.

Diferencial competitivo

Carlos Arruda listou exemplos de iniciativas da UFMG apoiadas pela FAPEMIG ao longo dos anos, como as armadilhas para mosquitos vetores da dengue, a Rede de Teleassistência de Minas Gerais, o Museu Ponto, o Centro de Inovações em Inteligência Artificial para a Saúde (CI-IA Saúde), além de pesquisas em nanotecnologia e tratamento da calvície e o CT Vacinas, referência da UFMG no desenvolvimento de vacinas e homenageado da série Projetos Inspiradores.

O dirigente também reconheceu outras parcerias estratégicas, como as unidades da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) ligadas à universidade, que receberam apoio da Fundação para levar pesquisas ao mercado. O programa Economia Verde 2, que aglutina pesquisas sobre descarbonização e mudanças climáticas, e o Cientista Empreendedor, que estimula a criação de negócios de base tecnológica, foram mencionadas pelo presidente da FAPEMIG como exemplos de planos em andamento. Na oportunidade, Carlos Arruda também anunciou ajustes na gestão. “Estamos mudando o ciclo, o fluxo e as linhas de fomento, melhorando os procedimentos de prestação de contas e revitalizando nosso sistema de avaliação nas câmaras”, listou. 

Com orçamento que deve superar R$ 600 milhões em 2025, a Fundação pretende, de acordo com o diretor, ampliar a captação junto a agências federais e a parceiros privados, mantendo a UFMG como referência. “A FAPEMIG é uma instituição dos mineiros, com recursos mineiros, para nós, mineiros. Vamos fazer o melhor uso possível do nosso recurso”, prometeu.

Para o subsecretário de Ciência, Tecnologia e Inovação da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais, Lucas Mendes, a FAPEMIG representa um "diferencial competitivo para o Estado". “Temos um patrimônio que precisa ser valorizado: nossas universidades e centros de pesquisa, somados a uma FAPEMIG que vem se estruturando e ampliando sua capacidade de fomento”.

Mendes enfatizou que é compromisso do governo de Minas manter o repasse integral de 1% da receita líquida para a Fundação, conforme determina a Constituição Estadual. “Esse percentual é um direito conquistado e essencial para garantir continuidade e previsibilidade aos investimentos em ciência, tecnologia e inovação. Nosso papel é assegurar que ele seja cumprido e bem aplicado”, destacou.

Patrimônio de Minas

A reitora Sandra Regina Goulart Almeida reforçou a importância da FAPEMIG para o sistema estadual de ciência, tecnologia e inovação, caracterizando-a como "patrimônio do Estado de Minas Gerais”. Ela destacou o momento positivo vivido pela Fundação, que tem garantido, por lei, o repasse integral de 1% da receita líquida do Estado e manifestou sua preocupação com a necessidade de se preservar a sustentabilidade desse financiamento. “A pior coisa para um pesquisador é sofrer a interrupção do seu recurso. Por isso, é imprescindível que esse 1% da FAPEMIG seja mantido”, defendeu.

Sandra Goulart lembrou que a FAPEMIG investe mais na pesquisa da UFMG do que qualquer outra agência de fomento e comemorou o aumento recente dos valores das bolsas. A reitora também ressaltou a importância do apoio da Fundação a pesquisadores em início de carreira, lembrando que a UFMG vive um momento de forte renovação de seu quadro docente. “Cerca de 57% dos nossos professores foram contratados nos últimos dez anos. É fundamental que eles tenham oportunidades para se consolidar e competir em nível nacional”, exortou.

A série Projetos inspiradores foi lançada em fevereiro deste ano para homenagear pesquisadores e iniciativas de inovação que contribuíram para transformar realidades em Minas Gerais. O professor Marcos Pimenta, do Departamento de Física da UFMG, que lidera estudos no campo da nanociência, abriu a série, que posteriormente destacou grupos de outras universidades mineiras, como as federais de Lavras (Ufla) e de Viçosa (UFV).